Postado em 22 de julho 2022
O sequestro de carbono entrou na pauta de muitos agricultores junto à crescente demanda do mercado pelo cumprimento dos requisitos Environmental, Social and Governance (ESG) – ou, em português, Ambiental, Social e Governança, por parte das empresas.
Assim, o que à primeira vista pode parecer mais uma regulamentação a ser seguida, na verdade, é uma oportunidade. Por meio do sequestro de carbono, o agronegócio tem a oportunidade de não só aprimorar suas técnicas produtivas em favor do meio ambiente como também gerar receita a partir disso.
É uma relação ganha-ganha, certo?
De um lado, o agricultor é compensado por plantar ou manter em sua propriedade áreas que absorvam o CO2 da atmosfera, que ajuda o meio ambiente. Do outro lado, empresas que adquirem os créditos de carbono gerados, por não conseguirem reduzir as emissões de carbono na atmosfera, ajudando a minimizar seu impacto ambiental.
E a melhor notícia é que o Brasil tem muito ainda a explorar nessa área. Até então o mercado europeu domina 90% dos créditos de carbono são comercializados pelo Velho Continente, de acordo com o Canal Agro, do Estadão. Segundo o mesmo canal, o Brasil pode abocanhar quase 40% desse mercado.
Se você ficou curioso e quer entender melhor como funcionam os créditos de carbono, acompanhe o restante do artigo!
O crédito de carbono serve como uma moeda de troca, para as empresas obterem a permissão para emitir dióxido de carbono na atmosfera. Cada crédito de carbono, equivale a 1 tonelada de CO2 emitida na atmosfera, por isso esses créditos são comprados por empresas que precisam diminuir sua pegada de carbono.
Os créditos de carbono são geralmente criados por meio de atividades na área da agricultura ou iniciativas que busquem a preservação e recuperação de florestas.
Um ponto interessante do mercado de créditos de carbono é que eles podem ser vendidos diretamente por quem os produz, ou por intermediários especializados no tema.
Os governos também têm papel importante no mercado de crédito de carbono, pois são eles que regulamentam a quantidade máxima de emissões permitida a determinados setores no território. Também é a União a responsável por regulamentar o mercado, por meio de decretos como o 11075, que institui o Sistema Nacional de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa, sendo um primeiro passo para a regulamentação do setor.
Por exemplo, se uma companhia do setor de energia por algum motivo ultrapassa a quantidade máxima de emissões para o setor, então ela vai precisar compensar essa emissão por meio de créditos. Por outro lado, se a empresa tem créditos e suas emissões ficam abaixo do limite, ela pode vendê-los para outras empresas.
A produção agrícola brasileira, pelo seu volume e interesse no tema, tem grande potencial no mercado de venda de créditos de carbono.
Para você ter uma ideia, a projeção é de que a receita com créditos de carbono rendam até US$ 100 bilhões no Brasil até 2030, evitando a emissão de 1 bilhão de toneladas de CO2 até o fim da década (fonte).
Esse cenário só é possível porque o setor agrícola do país tem adotado, nos últimos anos, técnicas de produtividade e eficiência visando a uma agricultura sustentável, com baixa emissão de carbono.
Além disso, o estudo Indicadores de Produtividade e Sustentabilidade do Setor Agropecuário Brasileiro, de 2022,publicado pelo Ipea, constata que o uso de “tecnologias e práticas sustentáveis atingiu 154% da meta fixada no Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação da Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC)”.
Por todos esses fatores, podemos dizer que o Brasil é, atualmente, o “descarbonizador” do planeta, o que abre muitas possibilidades para agricultores que ainda não estão tirando proveito dessa tendência.
Quando o volume de CO2 absorvido por uma plantação é maior do que o emitido, então pode-se dizer que essa lavoura está retirando carbono da atmosfera, ou seja, é um “sequestro” de carbono. Assim, as práticas agrícolas trazem um “saldo positivo” que pode ser convertido em créditos de carbono.
Para isso, existem práticas agrícolas. São algumas delas:
De acordo com o(VCS) Padrão de Carbono Certificado, a habilitação para a venda de créditos de carbono certificados passa por 5 etapas:
O primeiro passo é escolher qual método será utilizado para a quantificação das reduções de emissões.
O segundo passo é criar um projeto que descreva e demonstre o atendimento aos requisitos para a verificação das unidades de carbono.
O terceiro passo é validar o projeto por meio da análise de um terceiro certificado.
No quarto passo, é feito o monitoramento das emissões, que também devem ser avaliadas por um terceiro certificado.
Com tudo certo nos outros passos, deve-se solicitar a emissão das Unidades de Carbono Verificadas para venda.
Para saber mais sobre os passos, clique aqui.
Existem 4 requisitos para a geração de créditos de carbono por conservação florestal: cobertura florestal, localização, taxa de desmatamento, documentação.
De acordo com a consultoria Sustainable Carbon, fazendas com mais de 10 mil hectares nos biomas da Amazônia e Cerrado têm maiores chances de conseguir gerar créditos de carbono por conservação florestal. Também é imprescindível que tenham a documentação em ordem, para provar o direito à posse e a regulamentação da área. Já a taxa de desmatamento é calculada por meio de médias anuais e assim se verificam as iniciativas necessárias para aquele local específico.
Todos esses pontos levantados no artigo nos fazem ter ainda mais certeza: o agronegócio pode ser um grande aliado da sustentabilidade, gerando valor para si mesmo e para a sociedade. As alterações climáticas são uma questão real e precisam ser enfrentadas, e o nosso país pode ser uma referência ainda maior em produtividade e sustentabilidade agrícolas diante do mundo.