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Como interpretar análise de solo: guia para melhorar a produtividade agrícola

Postado em 29 de setembro 2023


Como temos visto nesta série de artigos, a análise de solo é uma ferramenta essencial para a agricultura, fornecendo informações valiosas sobre a composição, a fertilidade e as característ...

Como temos visto nesta série de artigos, a análise de solo é uma ferramenta essencial para a agricultura, fornecendo informações valiosas sobre a composição, a fertilidade e as características do solo. Até porque, quem trabalha na atividade rural sabe bem a importância de um solo bem cuidado para o sucesso da produção.

Todavia, interpretar corretamente os resultados da análise de solo pode ser um desafio para o produtor não familiarizado com o processo. Importante: sempre contar com o apoio e acompanhamento técnico para interpretação da análise.

Por isso, neste terceiro e último artigo sobre o tema, vamos mostrar como interpretar os dados da análise de solo, considerando diversos fatores que influenciam as recomendações de calagem e adubação. Aprenda a utilizar essas informações para tomar as decisões mais precisas e melhorar a produtividade de suas culturas.

Ficou interessado? Então segue o texto!

 

Fatores importantes na interpretação da análise de solo

Depois de realizar a análise, é chegado o momento crucial para completar o processo. Há uma série de fatores a serem considerados ao se fazer a interpretação dos resultados da análise de solo, como a região da área analisada, o histórico da área, a profundidade da amostragem, o sistema de cultivo, a produtividade esperada, a exigência nutricional da cultura e, inclusive, os recursos financeiros disponíveis.

Todos esses fatores devem ser levados em conta na interpretação dos dados e, então, com as seguintes recomendações de calagem e adubação, entre outras informações obtidas com a análise de solo.

 

Interpretação do pH do solo: a importância do pH do solo na absorção de nutrientes

Numa escala de 0-14, o pH (potencial hidrogeniônico) do solo indica a acidez (0-6,9), neutralidade (7) e alcalinidade (7,1-14) do solo. Isso, por sua vez, influencia na solubilidade dos nutrientes e das transformações químicas no solo, afetando a atividade de microrganismos responsáveis pela decomposição da matéria orgânica.

Solos ácidos apresentam problemas para a agricultura porque as plantas não desenvolvem bem nestas condições de acidez.

No caso das plantas, os nutrientes são classificados em dois grupos: macronutrientes e micronutrientes. Os macronutrientes são os elementos de que a planta necessita em quantidades elevadas; e os micronutrientes aqueles que ela precisa em quantidade menor para o crescimento e desenvolvimento das plantas.

Em relação aos macronutrientes, o Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K) são considerados macronutrientes primários, enquanto o Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Enxofre (S) são secundários. Ambos têm maior solubilidade e, portanto, maior disponibilidade à planta, em solos com valores de pH mais próximos da neutralidade (entre 6,0-6,5).

Desse modo, é importante ter em mente que o pH do solo afeta diretamente a disponibilidade de macro e micronutrientes para as plantas. Como exemplos de micronutrientes podemos citar o ferro, manganês, zinco, cobre, boro e cloro.

Em solos ácidos, com pH abaixo de 5,5, a disponibilidade de alguns micronutrientes, como manganês e zinco, pode aumentar. No entanto, em solos alcalinos, com pH acima de 7,5, a disponibilidade de micronutrientes pode diminuir.

O pH do solo também interfere no modo como os micronutrientes são absorvidos pelas raízes das plantas. Isso porque o pH do solo afeta a forma como os micronutrientes são ligados a outras substâncias no solo e, portanto, a sua disponibilidade para as plantas. Em solos ácidos, por exemplo, o ferro é mais solúvel e pode ser absorvido pelas raízes das plantas; por sua vez, em solos alcalinos, o ferro forma compostos insolúveis que são menos disponíveis para as plantas.

Assim, um pH inadequado pode afetar negativamente a absorção de micronutrientes pelas plantas, levando à deficiência de nutrientes e a redução da produtividade. Por isso é tão importante monitorar o pH do solo e corrigi-lo, se necessário.

As principais culturas requerem uma faixa ideal de pH do solo para crescerem e produzirem grãos, folhas, forragens ou frutos. O algodão requer uma faixa ideal entre 5,7 a 7,0; a cana-de-açúcar entre 5,7 a 6,5; os citros entre 6,0 a 6,5; a soja entre 5,7 a 7,0; o trigo, 5,5 a 6,7; o arroz, 4,7 a 5,2; o café, 5,2 a 6,0; o tomate, 5,5 a 6,8; o feijão, 5,5 a 6,5; o milho, 5,5 a 7,0

 

Adubação com NPK e sua relação com a produtividade esperada

Os macronutrientes atuam principalmente na respiração e na produção de energia e na formação de proteínas, açucares, amido e substâncias que fazem parte dos tecidos vegetais, além de componentes de hormônios, enzimas e vitaminas. Os macronutrientes mais importantes para o desenvolvimento das plantas são o nitrogênio, o potássio e o fósforo. 

Vale destacar que a adubação com macronutrientes varia de acordo com a cultura e a produtividade esperada. No caso do fósforo, a sua presença no solo ainda varia em função da argila.

 

Determinação da calagem do solo

A calagem é a prática indicada para corrigir a acidez, neutralizar o alumínio (Al) trocável e fornecer cálcio (Ca) e magnésio (Mg) para a cultura, proporcionando maior crescimento das raízes e incrementos de produtividade.

Dependendo da região do Brasil, há três métodos de calagem do solo: o Método do Índice SMP, utilizado no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina; o Método do Alumínio Trocável, usado em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; e o Método da Saturação por Bases (V%), utilizado em São Paulo e, em alguns casos, nas regiões do Cerrado e no Paraná.

Todos necessitam de alguns cuidados essenciais levando em consideração a porcentagem de argila, o teor de cálcio e magnésio, a capacidade de troca de cátions (CTC) pelas cargas negativas do solo ocupada por cátions básicos, e o PRNT – Poder Relativo Neutralizante Total.

 

Método do Índice SMP

O Método do Índice SMP tem como base a correlação existente entre o índice SMP e a acidez potencial do solo (H + Al). Dessa forma, podemos dizer que a quantidade de calcário a ser aplicada para atingir um pH adequado em um solo dependerá do índice SMP, ou seja, quanto mais baixo o índice SMP, maior a quantidade de H + Al do solo.

 

Método do Alumínio Trocável

O Método do Alumínio Trocável tem por finalidade neutralizar o teor de Alumínio Trocável e/ou fornecer cálcio e magnésio ao solo, quando os seus teores estiverem abaixo de um mínimo de 2 cmolc (Ca +Mg)/dm³.

 

Método da Saturação por Bases (V%)

Com base na correlação existente entre o nível de acidez do solo (pH) e V%, as proporções devem ser: quanto maior o pH, maior o V% do solo. Com isso, ao calcular as doses de calcário para elevar o V% até valores adequados, se aumenta automaticamente o pH do solo, eliminando as consequências indesejáveis do excesso de acidez.

PRNT

PRNT é a sigla para “Poder Relativo Neutralizante Total” e uma característica fundamental no momento de escolher um corretivo agrícola de solo. O PRNT é um bom parâmetro a ser analisado por resumir de maneira direta e indireta diversas características relacionadas a um corretivo de solo.

O PRNT é uma medida da qualidade dos corretivos, o qual é avaliado pelo valor de neutralização e pelo tamanho das partículas. Assim, quanto maior o PRNT, melhor a qualidade do calcário e, consequentemente, mais rápida é a reação no solo (Embrapa).

O PRNT é expresso matematicamente através da equação: PRNT (%) = (PN x RE) / 100

Sendo:

PRNT (%) = Poder relativo neutralizante total expresso em porcentagem

PN = Poder neutralizante

RE = Reatividade

 

Planejamento e tomada de decisão na adubação

Nesta etapa do processo, é importante você compreender que existem diversas estratégias de correção e adubação do solo. É o planejamento e a interpretação da análise de solo que definirão as melhores possibilidades de correção e adubação.

Vale destacar que as recomendações são personalizadas, ou seja, indicam um rumo a seguir, mas cada caso é um caso. Portanto, o que serve para um produtor pode não servir para outro. Por isso é tão importante que a decisão considere as características específicas do solo e o histórico de manejo da área.

Os solos brasileiros são, em geral, naturalmente ácidos em razão do alto grau de intemperização e da intensa lixiviação de bases. O problema é que a acidez é um dos principais atributos químicos relacionados ao desenvolvimento de plantas, afetando a disponibilidade de quase todos os nutrientes. Neste sentido, corrigir a acidez do solo por meio da calagem é vital, porque ela é indispensável para o aumento da produtividade agrícola, assim como fornecer os nutrientes necessários às plantas por meio da adubação é igualmente fundamental.

As recomendações de calagem e adubação são feitas com base nos resultados da análise de solo. A recomendação de calagem não é um procedimento simples, pois demanda o conhecimento de um número razoável de informações, como as características da propriedade agrícola (caracterização da área, da cultura, tipo de solo, histórico da área, expectativa de rendimento, etc), conhecimento tecnológico e, por último, informações oriundas das condições do mercado, principalmente aquelas relacionadas a preços de insumos e também disponibilidade de crédito.

A estimativa da necessidade de calagem (NC) é feita por meio da análise química do solo e vários métodos vêm sendo utilizados. Importante ressaltar que os métodos atualmente em uso visam não somente a redução da acidez do solo, mas o melhor retorno econômico para a maioria das espécies cultivadas. A escolha do calcário, o valor neutralizante, o grau de finura e sua reatividade são fatores relevantes na aquisição do material corretivo.

Já a recomendação de adubação também deve ser feita a partir dos resultados da análise de solo. Muitos agricultores e mesmo técnicos cometem um erro perigoso na adubação de culturas agrícolas, principalmente hortaliças – confundir uma cultura bem adubada com uma cultura adubada em excesso. O uso excessivo de fertilizantes, sem levar em consideração o que está disponível no solo e o que a cultura realmente necessita, pode ser um problema.

Por essa razão, vale insistir: qualquer recomendação de adubação ou de aplicação de corretivos deve ser feita com base na análise química do solo, a qual informa a quantidade de nutrientes que o solo oferece. Se esta quantidade for menor do que a necessidade da cultura, então se usa fertilizantes. 

Para isto existem tabelas de recomendação de adubação, feitas a partir de ensaios de adubação e da experiência de técnicos e agricultores, normalmente publicadas por comissões técnicas especializadas em Fertilidade do Solo. De posse dos resultados da análise química do solo, é possível consultar os valores recomendados para a cultura de interesse tendo em vista os valores presentes no solo.

 

Monitoramento e ajustes

Com tantos detalhes para se prestar atenção, sempre tendo em vista a melhoria da produtividade da lavoura, vamos aprendendo o quão importante é o monitoramento frequentemente dos níveis de nutrientes no solo após a aplicação das recomendações.

Isso nos leva a concluir que a análise de solo deve ser repetida periodicamente para acompanhar a evolução da fertilidade do solo e, assim, garantir a eficiência da adubação, fazendo os ajustes corretos sempre que necessário.

 

Outras análises complementares

Dependendo das necessidades e problemas específicos da área rural, é possível avançar em análises complementares. Como exemplos, podemos citar a análise de nematoides, a análise de textura por métodos mais precisos e a análise de resíduos de agroquímicos.

 

Conclusão

Ao chegarmos ao fim do terceiro artigo sobre a análise de solo, podemos constatar e aprender a importância do procedimento para a produtividade agrícola, com uma série de benefícios obtidos a partir de uma abordagem baseada em dados confiáveis para o correto manejo do solo. Vale reforçar que é imprescindível ter o acompanhamento de um Engenheiro Agrônomo para a interpretação da análise e recomendação da adubação.

 

 

 

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