Postado em 20 de setembro 2022
Não é novidade que o trabalho no campo está em permanente evolução. Estudos aperfeiçoam e desenvolvem novas práticas, o avanço tecnológico traz conhecimentos que agregam eficiência, e há ainda, de tempos em tempos, a mudança no comportamento dos consumidores – que atualmente pedem por soluções mais sustentáveis.
Tudo isso tem despertado nos agricultores a busca por sistemas de produção mais diversificados, de maior produtividade e mais integrados a sustentabilidade e conservação do meio ambiente. O desafio do momento é aumentar a produtividade com a conservação dos recursos naturais.
Nesse contexto, uma aposta significativa em curso no Brasil tem sido o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), capitaneado pela Embrapa. O sistema combina rentabilidade e bom giro de capital com preservação ambiental, especialmente em áreas da propriedade com grande declive.
Quer entender mais sobre a ILPF, seus benefícios e caminhos para implementar essa técnica na sua propriedade? Então vamos em frente!
A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) consiste na utilização de diferentes sistemas produtivos dentro de uma mesma área.
O sistema pode ser implementado em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, com benefício mútuo para todas as atividades. Assim, é possível usar melhor os insumos, diversificar a produção e criar mais renda e emprego.
E o melhor: todas estas vantagens são obtidas de maneira ambientalmente correta, com baixa emissão de gases causadores do efeito estufa ou até mesmo com a mitigação desses gases.
O objetivo central da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é otimizar o uso da terra, de forma a elevar os patamares de produtividade em uma mesma área, com a vantagem de obter estes ganhos de modo sustentável.
Ao alcançar estes dois elementos, você terá uma produção mais diversa e com produtos de maior qualidade.
Em fazendas onde houve práticas agrícolas de monocultivo e intensa exploração do meio ambiente, a ILPF é um caminho seguro para recuperar o solo degradado, renovar a pastagem e, assim, produzir com qualidade e gerar lucro na propriedade.
Além disto, o sistema ILPF é ambientalmente correto. Ao possibilitar mais de uma produção no mesmo espaço, se reduz a pressão pela abertura de novas áreas e pelo desmatamento.
A produção agrícola está presente em pelo menos dois dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), pacto global assinado durante a Cúpula das Nações Unidas em 2015 por 193 países. O ODS 2 trata da "Fome zero e agricultura sustentável”, enquanto o ODS 12 se refere ao "Consumo e produção responsáveis”, o que inclui a sustentabilidade.
Pesquisado pela Embrapa desde a década de 1980, o sistema (ILPF) se apresenta como uma ótima opção para que os produtores e, o próprio Brasil, alcancem os tão desejados objetivos sustentáveis.
Afinal, como você sabe, o trabalho no campo representa uma parcela significativa das atividades econômicas que impactam nas emissões de CO2 do País, seja pela emissão de metano dos bovinos ou devido ao desmatamento de florestas para uso da área em lavouras e pastos. Segundo a ONU, em 2021, o Brasil foi o 3º maior emissor do gás do efeito estufa no mundo, atrás de China e Índia.
Por tudo isso, o sistema ILPF tem enorme capacidade de colaborar para uma produção no campo mais equilibrada e sustentável, o que inclui o sequestro de carbono, que tem sido uma demanda do mercado pelo cumprimento, por parte das empresas, dos requisitos Environmental, Social and Governance (ESG) – ou, em português, Ambiental, Social e Governança.
A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é um sistema de produção que oferece diversas vantagens para o produtor, não apenas para o meio ambiente. O aumento da produtividade aliado à diversificação dos produtos, unindo lavoura, pecuária e florestas, acaba valorizando a própria propriedade.
Todavia, nada é absolutamente perfeito e há desafios neste caminho. Um deles, por exemplo, é o desconhecimento ainda existente no manejo das áreas de florestas, algo que exige atenção, assim como a falta de um mercado madeireiro forte no Brasil.
Além dos benefícios ambientais, o sistema ILPF também traz o desenvolvimento sócio-econômico da propriedade ao diversificar a produção e obter ganhos de produtividade. Juntos, estes fatores agregam valor à sua fazenda e melhoram as condições do campo.
Vale destacar que os benefícios da implantação da ILPF estão relacionados com a cultura escolhida, afinal, é ela que traz o retorno econômico mais rápido.
Listamos aqui algumas das principais vantagens da ILPF, confira:
- Viabiliza a recuperação de áreas alteradas pela atividade agropecuária;
- Possibilita a criação de conjuntos produtivos sustentáveis e a recuperação de nascentes e áreas de reserva legal;
- A recuperação e conservação de áreas de mata ciliar e cursos de água garantem o futuro da produção agropecuária da propriedade;
- A reciclagem de nutrientes mais eficiente, e estruturação do solo;
- Aumento da atividade microbiana, a quebra do ciclo de pragas e doenças;
- A oferta de forragem na época seca;
- O sistema possui grande potencial de sequestro de carbono pelos elevados acúmulos de biomassa forrageira e floresta;
- Aumento de matéria orgânica no solo, o que reduz a emissão de gás de efeito estufa na atmosfera.
- Proporciona microclima favorável ao aumento do índice de conforto térmico com presença dos animais na sombra das árvores;
- Aumenta a eficiência dos sistemas agrícolas, a maior intensidade do uso da terra e a possibilidade de produção de grãos, carne, leite e madeira, otimizando os recursos aplicados e criando maior renda para o produtor. Além de maior renda absoluta, esta não estará mais concentrada em um ou dois períodos do ano (safra), permitindo maior fluxo de caixa na propriedade.
Mais do que serem exatamente desvantagens, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) apresenta alguns desafios. A começar pelo sistema com árvores, algo um pouco diferente para a maioria dos produtores acostumados a lidar apenas com a lavoura ou pecuária.
Não se trata de um problema, mas da consciência de que o sistema ILPF precisa de maior capacitação do produtor para alcançar a máxima eficiência.
Outro ponto a considerar é a ausência de mercado madeireiro em determinadas regiões do País, o que pode dificultar a venda da madeira. Até por isto, o eucalipto é a espécie mais indicada para se trabalhar no sistema, pela vantagem do baixo custo de manejo e de mudas e tecnologia já acumulada.
É preciso ainda considerar que operações como o desbaste e a destoca tem custo elevado e podem causar danos ao solo se malfeitas.
A implementação do sistema na sua fazenda deve começar pela recuperação das áreas devastadas e alguns ciclos de plantio antes da inserção do gado. Esse primeiro ciclo é realizado com o plantio convencional com aração, gradagem e retirada de tocos e raízes remanescentes.
As matas ciliares e nascentes podem ser recuperadas com reflorestamento, que por sua vez pode ser custeado com o rendimento agrícola do sistema.
Confira a seguir um “passo a passo” de como fazer e a função de cada item dentro da ILPF. Lembre-se que no sistema ILPF cada um dos componentes utilizados se complementam entre si.
Lavoura:
É o primeiro item a ser implementado no sistema, responsável pela correção de fertilidade do solo. A lavoura compensa os custos de reforma da pastagem graças ao uso do residual dos adubos para o pasto e a renda da venda de grãos e frutos.
Pastagem:
No sistema ILPF, os resíduos remanescentes na área, após a colheita, formam a cobertura morta que melhora a estrutura do solo. A palhada protege o solo contra a erosão e compactação, além de conservar a umidade e aumentar a população de microrganismos no solo.
Pecuária:
É a renda extra permitida pelo sistema, razão de ser do trabalho desenvolvido.
Floresta:
Ligada diretamente a pecuária no sistema, a floresta oferece, com sombra e descanso, uma área de conforto para os animais. Para equilibrar o sistema, ela também sequestra o gás metano emitido da pecuária e mais o CO2 da atmosfera, além de possibilitar o comercio de madeira e os créditos de carbono. Tudo isso colabora para aumentar o valor da propriedade.
Após conhecer como funciona a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e decidir pela sua implementação, a pergunta que vem é: Quais culturas podem ser cultivada no sistema ILPF?
Para ajudar na resposta, listamos abaixo algumas culturas que você poderá utilizar na sua propriedade.
Soja
Pode-se começar com a cultura da soja, uma leguminosa com grande valor econômico. É um bom caminho para pagar o custo inicial do projeto. Lembre-se que a soja, por sua vez, demanda mais cuidados, investimento e estrutura para colheita.
Milho
Recomendado para uso no segundo ciclo, quando então o plantio é realizado por meio da técnica de plantio direto na palha. Há a vantagem de ser uma tecnologia sustentável.
Arroz
Indicado para terras baixas, principalmente na Região Sul do País. O arroz pode, inclusive, ser utilizado no primeiro ciclo do sistema.
Pastagem, Leguminosas e feijão
Boas opções para o terceiro ciclo de plantio, alternando as culturas agrícolas. O feijão é bem adaptado para os pequenos produtores e tem mercado consumidor garantido.
Vale destacar que culturas anuais, como arroz, milho, soja e feijão, têm retorno econômico rápido, o que amortiza os custos de recuperação das áreas degradadas, aumenta o giro financeiro da propriedade e cria empregos especializados.
Os animais entram no sistema após 3 ou 4 ciclos agrícolas. É o momento em que as áreas já estão recuperadas, com disponibilidade de alimento e conforto térmico para o rebanho.
A visibilidade que a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta tem tido no País é resultado de um longo processo. O ponto de partida foi o cenário de degradação dos solos, que fez com que pesquisadores estudassem, nos anos de 1980 e 1990, sistemas produtivos sustentáveis, como forma de combinar o aumento da produtividade vegetal e animal, com a preservação do meio ambiente.
Um exemplo é o "Sistema Barreirão", desenvolvido pela Embrapa, composto por um conjunto de tecnologias e práticas de recuperação de áreas degradadas ou improdutivas, embasadas no consórcio arroz-pastagem.
Dessa época surgiram as propostas dos sistemas da ILP, com rotação lavoura-pastagem, ainda sem incluir a floresta. Se percebeu que a forragem produzida na entressafra ajudava na cobertura do solo e no acúmulo de palhada para o cultivo em sucessão de grãos em sistema de plantio direto.
As braquiárias ganharam destaque como plantas usadas para a cobertura pela facilidade de cultivo e a massa de forragem produzida. Como resultado, os produtores começaram a utilizar essa forragem na alimentação animal na entressafra.
Em tempos mais recentes se introduziu o elemento florestal, tanto pela demanda por madeira, como pela necessidade de melhorar o conforto térmico para os animais, a proteção contra vento e geadas. E atualmente, com o crescente debate das mudanças climáticas e o sequestro de carbono, todo o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta.