Postado em 14 de fevereiro 2025
De modo resumido, a agricultura hidropônica é o cultivo realizado na água, sem solo. Ao invés da tradicional terra, há uma solução nutritiva que circula num sistema hidráulico, fornecendo às plantas os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento diretamente nas raízes.
Muitas culturas se adaptam bem ao cultivo hidropônico e uma das principais é a alface, hortaliça cuja produção é possível durante todo o ano país nas diversas regiões do Brasil. Cultivar alface em hidroponia pode ser uma excelente alternativa para produtores que buscam cultivos práticos e rentáveis.
O sistema hidropônico é mais fácil que o tradicional e leva a solução nutritiva, composta por água e nutrientes, direto às raízes. O enraizamento ideal da alface é o primeiro aspecto para que o cultivo em hidroponia seja um sucesso, seguido pela solução nutritiva e cuidados fitossanitários.
Fiquemos neste texto focados no enraizamento. Quer entender mais sobre essa etapa decisiva do processo? Então siga a leitura e conheça os principais aspectos para o melhor enraizamento da alface em cultivo hidropônico!
A resposta direta para essa pergunta é: porque é pelas raízes que a alface absorve água, nutrientes e estabiliza sua estrutura no meio onde está cultivada. Em sistemas hidropônicos, tal processo é muito relevante porque as raízes precisam se adaptar a um ambiente novo, com uma solução nutritiva ao invés do solo tradicional.
Na solução nutritiva que mantém o sistema hidropônico, os principais nutrientes para a alface crescer com qualidade são o fósforo, zinco, cálcio, potássio e enxofre.
A nutrição deve ocorrer de modo contínuo, o que permite o desenvolvimento correto das estruturas vegetais. Atenção para usar produtos de qualidade e indicados para essa proposta. Os níveis devem ser sempre repostos, a fim de que se mantenham em proporções adequadas.
O bom enraizamento garante que a alface se desenvolva e cresça forte e com qualidade, pois isso influencia diretamente a absorção de nutrientes e a resistência da planta a fatores externos.
Os fatores que influenciam o enraizamento da alface são a temperatura, a qualidade da solução nutritiva, a quantidade de oxigênio no meio e a umidade.
A temperatura ideal para o enraizamento costuma ser entre 18°C e 22°C. Isso porque temperaturas muito altas ou muito baixas podem afetar a absorção de nutrientes e a saúde das raízes.
Outro aspecto importante é a solução nutritiva. Ela deve ter níveis corretos de macronutrientes e micronutrientes, afinal, a deficiência ou o excesso de nutrientes pode prejudicar o crescimento radicular. A alta concentração de nutrientes deve ser particularmente evitada no início do plantio, pois o excesso pode prejudicar o enraizamento.
A presença de oxigênio é igualmente fundamental, considerando que a falta de aeração pode levar a uma baixa oxigenação das raízes e, assim, causar o apodrecimento delas. Então, atenção para cada um destes fatores!
Existem várias técnicas que podem ser aplicadas para melhorar o enraizamento da alface em sistemas hidropônicos. Uma delas é a utilização de substratos como a perlita ou a fibra de coco, que ajudam na boa aeração e retenção de água - fatores que favorecem o desenvolvimento das raízes.
Outra técnica bem comum é a utilização de hormônios de enraizamento, como o ácido indolbutírico (IBA), que pode ser aplicado de modo controlado para estimular a formação de raízes. Ou o uso de fertilizantes com ação bioestimulante como extrato de algas.
O controle preciso do pH da solução nutritiva e a manutenção de níveis adequados de EC (condutividade elétrica) também são fundamentais para otimizar o enraizamento. A solução nutritiva é um componente que merece cuidado. Para que as plantas cresçam bem, a água deve ter pH entre 5 e 6,5, o que favorece a absorção de nutrientes essenciais para o desenvolvimento radicular. O próprio mix de nutrição pode ajudar a manter o pH estável.
Nesse sentido, vale a pena usar medidores de pH e condutividade elétrica para checar os valores e fazer ajustes, pois a condutividade elétrica permite saber qual a concentração de sais na solução nutritiva. Atenção: a condutividade elétrica deve ser medida após a mistura da solução, sendo que cada cultura tem sua própria faixa de condutibilidade recomendada.
Monitorar o desenvolvimento das raízes é uma medida essencial para garantir que as hortaliças cresçam saudáveis e bem desenvolvidas. Fazer observações regulares das plantas pode ser o diferencial para o sucesso do cultivo.
Um fator chave é acompanhar frequentemente os níveis de pH da água e a disposição de nutrientes. Em sistemas hidropônicos, a melhor maneira de observar as raízes é visualizar as condições do sistema, como a turbidez da solução nutritiva e a saúde geral da planta.
Algumas ferramentas, como sensores de oxigênio dissolvido e pHmetros também podem ser usados para acompanhar a saúde do sistema hidropônico e detectar eventuais problemas com antecedência, antes que eles possam afetar as raízes. Também é recomendável a inspeção visual das raízes em estágios específicos do desenvolvimento da planta, de modo a identificar se há alguma deficiência ou doença.
O fluxo de água é outro elemento que merece monitoramento contínuo. Ele deve permanecer sempre em movimento e ter a temperatura certa, o que demanda atenção. Não é uma tarefa complicada e o cuidado pode ser o diferencial para o sucesso do cultivo.
De acordo com Ítalo Moraes Rocha Guedes, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Hortaliças) na área de nutrição de plantas e sistemas hidropônicos de produção, o principal benefício desse modelo de cultivo é a diminuição dos riscos de doenças de raiz, comuns quando o plantio ocorre na terra.
Embora em menor risco, as raízes da alface podem ser afetadas por algumas doenças, como a fusariose e a podridão radicular, ambas causadas por fungos. A fusariose provoca o apodrecimento das raízes, enquanto a podridão radicular pode ocorrer devido ao excesso de umidade e a falta de oxigenação nas raízes.
As duas doenças podem reduzir a capacidade da planta de absorver os nutrientes necessários da solução, comprometendo assim o crescimento da alface.
Outra doença comum é o Pythium, que ataca as raízes das plantas e encontra na água o local perfeito para se desenvolver. Fatores como a proximidade das plantas e a facilidade de propagação devido à constante circulação da solução e temperatura, contribuem para sua disseminação no cultivo.
Por ser um ambiente controlado, o sistema de hidroponia costuma ter menos risco de pragas e doenças do que a agricultura tradicional. Isso, todavia, não significa que não haja precauções a serem tomadas quanto a fungos, insetos e um problema específico desse modo de cultivo: as algas.
Para prevenir e controlar tais doenças é importante manter a higiene do sistema, evitar a contaminação cruzada e monitorar as plantas em busca de problemas. Um ponto relevante na hidroponia é conhecer os ciclos de pragas e doenças ao qual o sistema está sujeito, sem esquecer que, no caso de estufas, a ocorrência de doenças está relacionada ao microclima do local.
Para prevenir problemas é possível recorrer a métodos orgânicos de controle de pragas, como inseticidas naturais ou a introdução de controle biológico (predadores naturais) - cuja função é manter o equilíbrio entre populações que causem danos ao cultivo de plantas e aquelas que as controlam como inimigos naturais. Ao adotar o controle biológico em hidroponia como premissa fundamental para a redução de pragas e doenças, o produtor deve saber que as pragas e doenças não serão dizimadas e, sim, haverá uma manutenção destas populações causadoras de prejuízos econômicos num nível que não comprometa a sustentabilidade do negócio.
Dependendo da gravidade da infestação, o uso de fungicidas químicos pode ser necessário para controlar doenças, sempre com a devida cautela para não afetar a saúde do cultivo.
Outro aspecto relevante para prevenir e controlar doenças é garantir com que o sistema hidropônico tenha uma aeração adequada e que as raízes não fiquem encharcadas por longos períodos. A manutenção correta da solução nutritiva, incluindo a troca regular da água e o controle rigoroso do pH e da EC, também ajuda a prevenir o desenvolvimento de patógenos.
Além de não ser difícil e de ser relativamente mais econômico em comparação com a agricultura convencional, o cultivo da alface hidropônica pode proporcionar diversos benefícios, como o baixo risco de perdas e a possibilidade de cultivar em áreas reduzidas.
Com alto volume de consumo no País, a alface é um dos principais cultivos hidropônicos do Brasil, o que torna elevada a possibilidade de ter uma produção rentável. E para chegar lá, cuidar do correto enraizamento é o primeiro passo para o sucesso da alface hidropônica.