Postado em 23 de agosto 2023
Você sabe o que é enxertia? Já ouviu falar em enxertia de árvores frutíferas? Se não sabe ou não entende muito bem, esse texto é uma ótima oportunidade para conhecer as vantagens e benefícios desta técnica.
De modo resumido, podemos dizer que a enxertia é uma técnica utilizada na fruticultura para unir partes de plantas. A aplicação desta técnica é particularmente importante na obtenção de pomares com resistência à pragas e doenças, proporcionado frutas de melhor qualidade.
A enxertia é uma prática antiga, milenar, que remonta há cerca 4 mil anos, quando começou a ser usada na China e na Mesopotâmia (região no Oriente Médio localizada entre os rios Tigre e Eufrates), atualmente correspondente aos territórios do Iraque e partes do Irã e Jordânia.
Dissemos resumidamente que a enxertia é uma técnica utilizada na fruticultura para unir partes de plantas. Avançando um pouco na explicação, a enxertia é a introdução da parte de uma planta em outra planta.
Existem dois tipos principais da técnica: a enxertia de copa (parte superior) em porta-enxerto (sistema radicular) e o brotamento, que consiste na introdução de um botão em outra planta.
O enxerto é a parte que forma a copa da planta. Já o porta-enxerto forma o sistema radicular das plantas.
Aqui vale entender a definição dos diferentes pontos do enxerto:
Porta-enxerto: planta que fornece o sistema radicular para a enxertia;
Cavalo: planta que serve como base para a enxertia;
Garfo: parte superior da planta que será enxertada no porta-enxerto;
Estaca: segmento da planta usado como material de enxertia
O objetivo principal e a grande vantagem da enxertia em plantas frutíferas é obter frutas de melhor qualidade, por meio de pomares mais resistentes à pragas e doenças.
A técnica milenar é particularmente importante para o cultivo de espécies em regiões com condições climáticas e de solo inadequadas para certas frutas.
Confira os benefícios de enxertar plantas em árvores frutíferas:
São muitos os tipos de enxertia possíveis. Confira, a seguir, os mais comuns.
Trata-se de uma técnica amplamente utilizada para enxertar plantações em viveiros e plantas ornamentais lenhosas. O porta-enxerto e a copa devem ter o mesmo tamanho – o ideal é não ter mais do que 1⁄2 polegadas de diâmetro.
A técnica é semelhante ao enxerto de emenda, porém no porta-enxerto, o chicote mantém a língua do rebento no lugar (e vice-versa), possibilitando com que as duas mãos fiquem livres para envolver a junta.
Para o chicote e o enxerto de língua, você deve fazer cortes semelhantes no estoque e no descendente. Os cortes devem ser feitos com um único golpe de faca e devem ter uma superfície lisa para que os dois possam desenvolver uma boa união do enxerto.
O método de enxertia por brotamento em T é normalmente aplicado em plantas frutíferas como maçãs, pêssegos e peras durante o verão.
O brotamento em T deve ser feito quando a casca “escorregar”, ou seja, quando cortada, a casca facilmente se levanta ou descasca numa camada uniforme da madeira subjacente sem rasgar. O momento exato em que essa condição ocorre depende da umidade do solo, da temperatura e da época do ano, o que também varia conforme a espécie e variedade.
Detalhe: o tempo seco ou excessivamente quente ou frio pode encurtar o período de deslizamento da casca, assim como a irrigação pode ser valiosa para estender a estação de brotamento T.
Como a brotação geralmente é feita durante os meses de verão, os botões não devem ser adicionados quando a temperatura ultrapassar 32°C.
A enxertia de topo é uma técnica que envolve a união da parte superior da planta (copa) com o porta-enxerto através de cortes específicos.
A técnica de enxertia por encostia consiste em unir duas plantas encaixando suas cascas e permitindo a conexão direta entre os tecidos vasculares. Nesse método, faz-se uma incisão nas duas plantas e as une com o reforço de uma fita, permitindo a troca de seiva e a união dos tecidos. É uma técnica alternativa para casos em que a casca não desliza facilmente.
A técnica de enxertia de borbulhia envolve a introdução de uma única gema vegetativa ou borbulha do estoque no porta-enxerto enraizado. A melhor época de enxertia, para esse tipo de multiplicação, é a primavera-verão.
A técnica consiste em se destacar a gema vegetativa (ou borbulha) da planta matriz, aquela selecionada para propagação e introduzi-la no porta-enxerto, que pode ser, de preferência, de uma mesma espécie ou espécie próxima.
Os cortes podem ser feitos em formato de T, janela, anelamento ou chapinha. Essa técnica é frequentemente empregada para brotar maçãs, crabapples, dogwoods, pêssegos e peras durante o verão.
A técnica de garfagem envolve o encaixe de um garfo (parte superior da planta a ser enxertada) em um porta-enxerto, por meio de um corte em V. É uma técnica comumente utilizada em viveiros ou plantas ornamentais lenhosas.
Esse método de enxertia é a escolha ideal para a propagação de coníferas de crescimento lento. O enxerto de folheado envolve remover a casca de um lado do descendente e de uma porção do porta-enxerto e, em seguida, juntar os cambios expostos.
O enxerto de emenda é uma técnica simples usada principalmente em plantas com diâmetro de caule inferior a 1/2 polegada. O enxerto de emenda envolve unir um descendente a um pedaço de raiz intacto ou apenas a uma haste do porta-enxerto.
Em casos de doenças ou danos às plantas, o enxerto de ponte pode efetivamente criar uma ponte sobre a área para fornecer suporte e garantir que os nutrientes e a água sejam capazes de alcançar todas as áreas da planta. Esse tipo de enxerto é realizado durante o início da primavera, antes do início do crescimento ativo da planta.
Além das técnicas já citadas, existem outras que são, digamos, menos comuns. É o caso da enxertia em fenda, usada principalmente em árvores frutíferas e floridas, como macieiras, cerejeiras e pessegueiros, para alterar a variedade da planta.
Nessa técnica, o enxerto de fissura é melhor realizado nas hastes principais ou nos ramos do andaime durante o inverno e o início da primavera e envolve fazer um corte ou fenda no centro do material e inserir um rebento em cada extremidade da fenda.
Um aspecto importante para o sucesso das técnicas de enxertia é haver compatibilidade entre as espécies de plantas envolvidas. A compatibilidade refere-se à capacidade das plantas se unirem com sucesso através da enxertia.
Estudos indicam que enxertos em diferentes gêneros da mesma família raramente são compatíveis, mas enxertos de diferentes espécies dentro do mesmo gênero podem sobreviver. Portanto, é essencial considerar a compatibilidade ao escolher as plantas para a enxertia.
Agora que você já conhece algumas técnicas de enxertia, saiba um pouco mais do passo a passo para realizar o enxerto de plantas em árvores frutíferas.
Tudo começa pela preparação dos materiais necessários, como a faca de enxertia bem afiada, o porta-enxerto saudável, garfo ou borbulha adequados, além dos materiais de proteção, como fita de enxertia ou cera de enxertia.
Escolher um local e o momento adequado na planta para realizar o enxerto é vital. Ao fazer essa escolha, leve em consideração a idade e o vigor da árvore. Igualmente importante é prestar atenção ao momento ideal para realizar o enxerto, normalmente durante o período de dormência ou no início da primavera.
A preparação do porta-enxerto passa pela realização de um corte em bisel na parte superior do tronco ou galho selecionado. Atenção: é fundamental fazer um corte limpo e preciso para garantir uma boa conexão com o garfo ou borbulha.
O garfo ou borbulha deve ser preparado realizando um corte em bisel ou em forma de T na parte inferior. É importante selecionar um garfo ou borbulha saudável e compatível com o porta-enxerto.
Outro aspecto a ser considerado é a importância de fazer cortes adequados no estoque e no descendente para garantir uma boa união no enxerto.
Depois de passada as etapas de preparação dos materiais, a seleção do local na planta, a preparação do porta-enxerto e do garfo (ou borbulha), é preciso ter cuidado com a proteção do enxerto após a realização do procedimento.
Para isso, deve-se usar tiras de enxerto ou barbante para cobrir a junção entre as partes da planta enxertada, a fim de evitar infecções e garantir a cicatrização adequada.
A pós-enxertia também é um momento que exige cuidados, visando a eficácia do processo. Deve-se regar adequadamente, prestar atenção em eventuais pragas e doenças, e monitorar regularmente o crescimento do enxerto.
Atenção para o surgimento de brotos indesejados abaixo do enxerto: eles devem ser removidos para garantir o crescimento saudável.
Com o processo chegando ao seu final, é importante ficar vigilante e acompanhar o desenvolvimento do enxerto ao longo do tempo. O acompanhamento é necessário para avaliar se houve uma boa conexão e crescimento do enxerto.
Além do acompanhamento para se certificar de que o enxerto está crescendo bem e houve uma boa conexão, há alguns outros cuidados necessários para garantir o sucesso do enxerto.
Entre eles, destacamos a poda adequada, a nutrição adequada da planta e o monitoramento de doenças. Se preciso, pode-se também fornecer algum suporte físico, de modo a evitar que o enxerto seja danificado por ventos fortes ou peso excessivo.
Outro detalhe significativo é adotar medidas de controle e prevenção para evitar a transmissão de patógenos, como a utilização de material de enxertia saudável, a desinfecção de ferramentas e a adoção de boas práticas de higiene.
A propagação vegetativa consiste em multiplicar assexuadamente partes de plantas (células, tecidos ou órgãos), dando origem a indivíduos geralmente idênticos à planta-mãe. A técnica proporciona maior efetividade em capturar os ganhos genéticos obtidos dos programas de melhoramento.
Dentre as principais vantagens da propagação vegetativa de espécies florestais, podemos destacar a formação de plantios clonais de alta produtividade e uniformidade, a melhoria da qualidade da madeira e de seus produtos, a multiplicação de indivíduos resistentes a pragas e doenças, e a transferência, de geração para geração, dos componentes genéticos aditivos e não-aditivos, o que resulta em maiores ganhos dentro de uma mesma geração de seleção.
O uso do enxerto de plantas frutíferas no melhoramento genético permite combinar características desejáveis de diferentes variedades ou espécies, resultando em plantas com características superiores.
Como técnica utilizada na fruticultura para unir partes de plantas, a enxertia permite a criação de pomares mais resistentes à pragas e doenças, proporciona o cultivo de espécies em condições desfavoráveis e atua no melhoramento genético das plantas.
Além disso, a técnica oferece uma forma eficaz de propagar e preservar variedades específicas de frutíferas, garantindo a manutenção das características desejáveis ao longo das gerações.
Outras vantagens importantes são a redução no porte da planta (o que facilita tratos culturais), a viabilização do cultivo de espécies ou variedades suscetíveis a doenças, a possibilidade de expandir características desejáveis segregadas por mutações naturais ou induzidas, assim como preservar e multiplicar variedades nobres.
É uma técnica um pouco complexa, à primeira vista não parece tão simples, mas os resultados irão lhe mostrar que o esforço vale muito à pena!